"Lágrimas"
Aos vinte e dois dias do mês segundo
A dor me tomou de uma forma cruel
Pois a morte malvada, levou meu amigo Gabriel
Tinha sumido para ajeitar as coisas com sua família
Seu motivo maior; a morte de seu pai.
Quem matou o pai de Gabriel?
Quando ele voltou não me deu noticias
Estava gravemente doente
Foi envenenado com a insensatez do mundo
Com a embriaguez de um mórbido orgulho
Desconsiderando minha alma aberta
De uma amizade com valor profundo.
Corroído na doença, não deu noticias
Procurei aflita por todos os lugares
A cada dia, angustiada, o procurava
Incomodei o inferno com esse amor fraternal
Incomodei os céus na súplica de uma noticia
Relia suas cartas com lágrimas de desespero.
Soluçando procurava justificar o sentimento
Um amor maior que o de mulher ao seu marido
Maior que a própria razão de amar
Um amor gerado nos céus e que pra lá poderá voltar
Rogava a Deus desesperadamente
Tivesse noticias de Gabriel.
Não desisti de procurar-lo...
Gabriel se escondia por estar muito doente
Não percebia o quanto me preocupava.
Queria que me chamasse de minha irmã
De sua mãe ou mesmo sua querida
Mas Gabriel preferiu se calar e me desprezar com sua doença...
Oh que cansativa procura
Dia e noite em busca de uma noticia
Quando desistia da procurar, ACHEI-O
Foi tarde!
Estava morto.
Gabriel não resistiu, Morreu!
Gritei desesperada!
Deeeuuussss!!!
Porque levou meu Gabriel?
Porque tirou mais uma vez um pedaço de mim?
Não era um amor banal
Um amor apenas de cama ou de botequim...
Era um amor gerado por Deus
Gerado por tantos pontos em comum
Perdido por coisa tão incomun
Que não consigo entender
Onde está a explicação
Pra tanta dor e humilhação?
Deus, porque me levou o Gabriel?
Queria que ele fosse um vagabundo
Disfarçado de universitário
Ou poderia ser um otário
Em vestes de intelectual
Mais que gostasse de mim...
Queria que mesmo me ocultando a verdade
D’ele ter matado meu outro amigo Martim,
Tivesse me deixado ver que continuava
Se preocupando em sempre ser meu companheiro
Meu muso, meu conselheiro
Que não me deixava sofrer.
Que vida ainda tivesse
E com sinceridade dissesse
Que sensibilidade sempre teria
Inda que dissesse que rouba
Engana, esconde e estorva
Mas compondo lindas poesias.
Deeeeeeeeeeeeeeeus!
Porque levaste de mim Gabriel?
Que trapaça que a vida traça!
Num estalhaçar dum coração de raça
Nesta dor de incrível pirraça
E sente o sabor do amargo fel!
Num coração que não nega a exatidão
Do amor amigo que se foi sem compaixão
E ao achá-lo em desespero constatei
Um óbito do óbito que relutei
Pra não ser o meu nesta triste realidade
De ser traída com tanta intensidade.
Deeeeeeeeeeeeus!
Só me resta homenageá-lo
Deixando em sua lápide com saudade:
Aqui jaz o Gabriel
Levou consigo nossas conversas
Risos, alegria e fidelidade...
De quem sabia em rimas
Transformar em poesia
A dor de uma mulher cansada
Cansada de sempre ser enganada
Iludida e mal compreendida
Mais que em si a esperança realça.
Esperança de manter em memória
Os bons momentos que viveu
Mesmo em meio ao tremendo breu
Dum mundo que anima e mata
Com armas que nem a história
Identifica seu poder e marca.
Na crueldade dum destino incerto
Busca força pra prosseguir
Conservando o espírito reto
Mesmo em meio a caminho incerto
E ver um dia sorrir
Um verdadeiro rosto, num espelho certo.
Finado amigo Gabriel
Quem dera ressuscitasse
E visse que dor me causou
No mesessário de nos conhecermos
Esperava que um dia voltasse
Dizendo nossa amizade não acabou.
(texto do livro: "Trincheiras do Amor")