A poesia é minha cruz!
A poesia é minha cruz!
Cega-me os olhos, não quero vê-la!
Tira-me o olfato,
não quero sentir o cheiro
que me comanda os desejos!
não quero sentir o cheiro
que me comanda os desejos!
Tapa-me os ouvidos!
Não quero sussurro de amores,
nem dores, nem do escambau!
Não quero sussurro de amores,
nem dores, nem do escambau!
Tira-me o tato, não quero tocar!
Nem pau, nem pedra, nem pele,
muito menos nuvens de algodão
(detesto nuvens de algodão!).
Nem pau, nem pedra, nem pele,
muito menos nuvens de algodão
(detesto nuvens de algodão!).
Quero ser imune! Imune a tudo!
O coração do poema boêmio sangra,
grita, madrugada afora,
pelas ruas escuras da cidade.
pelas ruas escuras da cidade.
Copo na mão, trocando os pés sobre
o asfalto das esquinas vazias,
das almas vadias,
a comentarem sobre o surto
das almas vadias,
a comentarem sobre o surto
do poema, que de tão curto,
explodiu em um só verso,
numa noite qualquer,
a céu aberto.