de volta

de volta aqui

emudeço

minhas lágrimas são cristais

perfeitamente quebrados

de volta aqui

cega-me a luz,

esnuveia a visão

o horizonte encurta e

me despeja nessa loucura

de volta aqui

sinto sua falta

pressinto nas coisas a sua presença

mas, você não veio comigo,

ficou aonde deixei.

de volta aqui

o relógio me olha tristemente

no desfiar das horas

cinco e pouco da tarde

o entardecer tarda muito em pintar

o céu de sangue

em oxigenar as violetas escondidas

flores que jamais conhecerão a primavera.

de volta aqui

o ciclo se fecha com a porta da casa

há chaves, tranca e segredo

o ciclo se completa e arremeda outro

o de morrer silenciosamente

perante as paredes da sala.

no chão permanece intacto

o cansaço

as malas repousam bêbadas, saculejadas,

amassadas,

etiquetadas

cruéis por trazem em si

a partida e a volta

não conseguimos guardar tudo.

não consegui guardar a poesia

até amanhã

até o indigitado destino

de volta aqui

minha presença se encolhe

em meus passos

meus olhos percorrem os cantos

à procura de saída,

uma redenção ou

misesricórdia

mas isso aqui não há.

estava em paz

e, de repente aqui

só a oclusão

abandono, sujeira

sujeitos sem ação

objetos inúteis e sem contexto

tiro os sapatos,

tiro as roupas,

ao despir-me diante da cama

deito com minha resignação

deito sozinha

e, afinal adormeço sozinha

agarrada em minha loucura

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 26/10/2007
Código do texto: T711156
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