de volta
de volta aqui
emudeço
minhas lágrimas são cristais
perfeitamente quebrados
de volta aqui
cega-me a luz,
esnuveia a visão
o horizonte encurta e
me despeja nessa loucura
de volta aqui
sinto sua falta
pressinto nas coisas a sua presença
mas, você não veio comigo,
ficou aonde deixei.
de volta aqui
o relógio me olha tristemente
no desfiar das horas
cinco e pouco da tarde
o entardecer tarda muito em pintar
o céu de sangue
em oxigenar as violetas escondidas
flores que jamais conhecerão a primavera.
de volta aqui
o ciclo se fecha com a porta da casa
há chaves, tranca e segredo
o ciclo se completa e arremeda outro
o de morrer silenciosamente
perante as paredes da sala.
no chão permanece intacto
o cansaço
as malas repousam bêbadas, saculejadas,
amassadas,
etiquetadas
cruéis por trazem em si
a partida e a volta
não conseguimos guardar tudo.
não consegui guardar a poesia
até amanhã
até o indigitado destino
de volta aqui
minha presença se encolhe
em meus passos
meus olhos percorrem os cantos
à procura de saída,
uma redenção ou
misesricórdia
mas isso aqui não há.
estava em paz
e, de repente aqui
só a oclusão
abandono, sujeira
sujeitos sem ação
objetos inúteis e sem contexto
tiro os sapatos,
tiro as roupas,
ao despir-me diante da cama
deito com minha resignação
deito sozinha
e, afinal adormeço sozinha
agarrada em minha loucura