Sou normal?
O meu normal é ser estranho.
Estranhe-me se eu parecer normal.
Sou ovelha sem rebanho,
Sou austero, mas não sou mal.
Sou criatura que também crio,
E recrio o que estava encruado,
Sou feitura cheia de brio
Que busca o brilho ainda ofuscado.
Às vezes inconstante como uma mola
Não mole, quando amolado,
Em minha tribo não fui atribulado
E meus atributos não foram tributados.
Meu modo não afeta a moda
E moldar não é minha pretensão,
Mas a fala quando flui
Conflui para uma propensão.
Os jeitos e trejeitos refeitos,
Perfeito no feito natural
Observo do parapeito, sem despeito,
Com respeito, sem ser passional.
Inclino-me no aclive,
Evitando o declínio,
Escramuço, esbravejo,
E por fim faço o escrutínio.
Não brigo, intrigo,
Não desaponto, confronto;
Calado eu grito,
Sereno, amedronto.