Imensidão da noite

“É tamanha a noite que me sobra nos braços”

Florbela Lourenço

sobra-me a esperança da solidão que engulo

essa que se crava nos dedos como memória

esse orgulho falacioso e desprezivelmente vil

ser… sem estar… mas ser, tristemente é…

as noites desenrolam-se

como sombras desordenadas no tecto frio,

os lençóis dormem amarrotados e gélidos,

vazios de corpo, de gente, de nós…

os minutos desfilam como cordeiros

compassados, ordenados, mecânicos

o tempo é o que sempre foi…

uma tortura medível pela ausência

a solidão vem-me trazida pelo som

esse som do mundo em ranger de madeira

sobram-me os braços vazios

sobram-me as noites,

sobra-me a vida

sobra-me o dia e o sol…

sobro-me a mim por não me bastar…

Alberto Cuddel

05-03-2020

16:30

In: Nova poesia de um poeta velho

Alberto Cuddel
Enviado por Alberto Cuddel em 25/05/2020
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