Pedaços de sono e restos de poesia

Lençóis rasgados cobrem meu peito fragmentado.

O segundo verso é sempre mais difícil que o primeiro e mais fácil que o terceiro.

A incapacidade de ser humano transborda por minhas frestas

e a impaciência tinge os meus cabelos de branco numa lenta e longa sessão de tortura/pintura.

Lembrar de respirar é incômodo.

Lembrar de nivelar meus ombros tortos é irritante.

As vozes me dizem que talvez seja melhor parar por aqui, aos 30, mas o passado e o futuro me fazem continuar e então, as vozes são abafadas pela esperança infantil das possibilidades.

O que me diferencia de um animal é a noção de dor.

Um animal reage à dor viva e concreta,

eu sou atormentado por dores que não existem,

ou melhor, por dores que só existem por mim e para mim.

Falar é cansativo.

Escrevamos.

O paraíso artificial de seus cabelos vermelhos não pode me enganar e nem me destruir,

meu coração jaz estraçalhado

a mais de uma década e eu sorrio de saudade

enquanto os vermes me devoram.

O Bêbado
Enviado por O Bêbado em 18/04/2020
Código do texto: T6921273
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