Pedaços de sono e restos de poesia
Lençóis rasgados cobrem meu peito fragmentado.
O segundo verso é sempre mais difícil que o primeiro e mais fácil que o terceiro.
A incapacidade de ser humano transborda por minhas frestas
e a impaciência tinge os meus cabelos de branco numa lenta e longa sessão de tortura/pintura.
Lembrar de respirar é incômodo.
Lembrar de nivelar meus ombros tortos é irritante.
As vozes me dizem que talvez seja melhor parar por aqui, aos 30, mas o passado e o futuro me fazem continuar e então, as vozes são abafadas pela esperança infantil das possibilidades.
O que me diferencia de um animal é a noção de dor.
Um animal reage à dor viva e concreta,
eu sou atormentado por dores que não existem,
ou melhor, por dores que só existem por mim e para mim.
Falar é cansativo.
Escrevamos.
O paraíso artificial de seus cabelos vermelhos não pode me enganar e nem me destruir,
meu coração jaz estraçalhado
a mais de uma década e eu sorrio de saudade
enquanto os vermes me devoram.