A pantera

Meu peito sequioso

é dilacerado lentamente

pela quilha

mal resolvida da consciência.

Pantera chula

que clama em seus passos elásticos.

As unhas dolorosas e pesadas

nas periféricas indagações

de luzidios feixes solares.

Sobre as pradarias eu,

prostrado,

assunto meu cérebro:

nave,

máquina,

pedra,

quente,

cinza,

fornalha,

provedor de misticismo.

Sou o soldado romano

que joga dados à sombra

da cruz

e se arrepende

no futurismo da vida contemporânea:

néscia sorte.

Maria chora sangue

no meio-dia do Gólgota!

Atrás, à sorrelfa,

o poeta...

As pupilas dilatam-se

verticalmente ao sol a pino

e o gotejar do suor é o embaço,

vapor ilusório e sem chagas.

Minhas garras se desnudam,

minha pele é lustre negro;

em boca amarga a palavra equivocada

e a atitude complementar.

Ameaço o salto redentor

e previno a cura

com a carne do fígado

entre os dentes amarelos.

Da ferida da lança impenitente

entorna-se a piedade da hora do arrebol

e meus olhos estão atentos.

A fera louca é também

leoa errante no bocado

que me resta de não ser.

Ainda há tempo do desfalque,

da saída estratégica,

da fuga pelas savanas corriqueiras

e da entrega, mansamente,

aos apuros predadores,

à vigília do símbolo.

Ai, o meu peito se entreabriu!

Como está oco e dormente;

tenho expostas as vértebras

e o coração saltou-me às mãos.

Não o recolhi ao seu espaço antigo:

comi-o vorazmente em reminiscências

de felino ignoto.