Martirios Noturnos
Meditava ante a escuridão noturna.
Um negro terror assaltava-me a face.
Pensava numa mascara soturna
A olhar-me do espelho. . . A interface.
Foi em altos níveis de mórbida ansiedade
Que minha consciência se deslocou pela noite.
Ribombar de trovões ecoavam sem piedade,
Quebrando o silencio num infindo pernoite.
Os estampidos que me feriam os ouvidos
Não eram na verdade as vibrações do ar,
Mas sim a guerra atômica que a estourar,
Trazia a tona um registro de tempos idos
Notei que num ponto não muito distante
Os eventos se passavam em nova velocidade.
Ali era o verdadeiro inferno de Dante,
Ou o universo paralelo da relatividade.
O louco e o gênio andavam lado a lado,
Numa caminhada estranha e desengonçada.
Um menino e um velho dançavam um fado,
Ao som de uma musica desencontrada
Um atirador de facas de um circo virtual
Mirava contra meu cérebro seus dardos,
E eu em pleno martírio noturno e mental
Sorria maluco o sorriso dos danados.
Um circo de horrores abria seu picadeiro
No centro de minha alma atormentada
Artistas disformes apareciam primeiro,
Logo após estranhas feras em parada
Era o desfile dos malditos do inferno
Junto com os herdeiros destes mundos.
Dois universos se encontrando no interno
Movimento de dois planos imundos.
Um facínora se apresentou para o auditório
Ostentando no pescoço nojentos amuletos,
Vísceras escarlates de corpos, esqueletos
Convidados mórbidos do grande velório.
Feras famintas e sedentas entraram em cena.
Cada ingresso vendido valia uma mordida.
O resto do auditório foi deixado na arena,
Para o deleite de uma sociedade perdida.
Ninguém ria dos palhaços que cruzavam o palco,
E assopravam pulmões como se fossem balões.
As cinzas dos mortos serviam de talco
Que polvilhados, secavam nervos e tendões.
Quando se baixaram os panos, fim de noite,
Daquele circo fúnebre, negro e derradeiro,
Vi uma figura negra portando uma foice,
Esgueirando-se por entre as sombras do picadeiro.