Sanguinolência
Acordei molhado de suor,
Mas o odor não agradava meu nariz,
Por um sentimento de dor,
Encontrei-me na matriz.
Estava num mundo tempestuoso,
Ao sul novamente o sol nebuloso,
De nuvens vermelhas carmesim,
O início de um novo fim.
Meus joelhos dobrados faziam o sangue eterno bater na minha barriga,
O céu chovia sangue de covardia,
Descendo grosso pelo meu corpo,
O nascer do velho corvo.
O Sol negro raiando como tentáculos de agonia,
Naquele céu de vidro proposto em ironia,
Coloquei-me em pé para trilhar meus caminhos descomunais,
Doendo as solas como se pisasse em corais.
Descia quente e molhava meu cabelo densamente,
Deixava pesado toda a minha mente,
Fui forte suficiente de andar,
Fui tolo suficiente de não vomitar,
Sou louco suficiente para suportar,
Sou humano suficiente para chorar.
Meu coração pulsava para se juntar a maresia,
O sonho de toda eutanásia,
Desbravando qualquer desejo do coração inerte,
O pensamento dos Sete.
Andando e caminhando,
Seguindo a canção do mar sangrento,
Procurava-me voando,
Estava em processo de afogamento.
De barco vinha o caronte,
Passando debaixo de uma inexistente ponte,
Que existiu em mente e em verdade,
Era a Morte, morta de saudade.
Trazia em mãos cadavéricas um pouco de conforto,
Como se já aceitasse que estava morto,
Eu não sou igual a morte que morreu sem lutar,
Nem nascer,
Sou ser filho dos mil sóis,
Que sois vós,
O nosso alvorar de perecer.
Dentre os ventres do mundo está o dragão,
Cambaleando em sua canção,
Passando por montanhas,
Rasgando entranhas,
Ele corta todo o céu,
Usurpa o próprio véu.
Nas terras encharcadas encontra-se o terror,
De todo aquele que nunca temeu,
Para ver a face do horror,
Minha, que nunca morreu.
Estou sangrando as correntes,
Fazendo vermelhas torrentes,
Jorrando sangue na veia da alma presente no coração,
Esse é um mundo que eu fiz por causa da insatisfação.
Mas tenho chorado aos prantos em madrugada,
Insuficiente para misturar sangue e água,
Esse ano foram cortes e lacerações,
Outro dano do caçador de corações.
Prometi que não iria morrer novamente,
Mas menti,
Diferente da outra morte,
Essa eu sorri.
Alternativamente a essa morte,
Com sorte,
Eu voltarei a viver ano que vem,
E provavelmente vou morrer nesse ano também.
Tenho chorado demasiado,
Esse sangue tem me cansado,
Tento dormir porém acordo novamente,
É um sonho que eu realizo eternamente.
Deixo unhas em carne vivíssima,
A vez que eu soluço é a milésima,
Meus dentes rangem e despedaçam,
As sombras do passado me caçam.
Eternamente serei eu,
Qual seja a necessidade infinita de morrer,
Hoje um novo sol nasceu,
E farei parar o sangue que faz chover.
Posso até sangrar demais,
Mas pela montanha eu corro,
Esse ano eu posso ter morrido,
Mas ano que vem eu não morro.