Possessividade
Quando ela se olha no espelho
Não vê o seu corpo molhado ou seco,
Rugoso ou suave, sorridente ou triste
Quando ela se olha no espelho,
A primeira impressão é agressiva
De negar a essência, em prol da aparência
Uma ânsia tão vaidosa e perdida
Quanta beleza vai-se perdendo
Na maquiagem de um orgulho que não se maquia
Só importa ser alguém que impressione
- Quem és tu, pergunta lá do fundo dos olhos
E a resposta, quem dá é o corpo que se apronta.
A segunda impressão: a dúvida
É o corpo quem não se agrada da alma,
Ou a alma que não se acha no corpo?
A terceira impressão: a impotência diante de si mesma
Seus valores ofuscando a própria imagem
Profundo espelho, sempre o mesmo a representar
Agora é quebrado
Estilhaçado no ódio possessivo
Da mulher que sorri ensangüentada.