Abraço

Aos que estão dentro de suas casas e sentem as pernas travarem quando chegam perto da porta.

Aos que estão do lado de fora, mas as mãos soam e o coração dispara quando cogitam entrar.

Aos que se acalmam ao encher a boca de comprimidos e aos que querem não mais precisar deles.

Aos que se cortam para aliviar-se de uma dor profunda que escorre pela pele.

Aos que são reféns da sensação de vazio e aos que mesmo de olhos abertos se sentem no escuro.

Aos que não conseguem mais encontrar perspectiva em suas vidas e se dão como vencidos pela angústia.

Aos que rangem os dentes de ódio ao serem perseguidos pelo passado.

Aos que sentem cada minuto passando vagarosamente e aos que não notam que já se passaram anos.

Aos que já se esqueceram do que é desejar abrir os olhos pela manhã e vivem um dia de cada vez.

Aos que gritam para tentar se esvaziar e aos que enchem seus copos para tentar se preencher.

Aos que não conseguem se libertar da repetição ou que nem ao menos notaram que caíram nesse ciclo vicioso.

Aos que não reagem quando são atacados e que se escondem para não serem vistos e apontados.

Aos que choram de noite em silêncio, assim como aos que gritam e esperneiam, levando murros e tapas.

Aos que escutam o que ninguém mais escuta e por isso não são ouvidos quando falam.

Aos que enxergam no mundo ou fora dele, coisas que ninguém mais enxerga e por isso são deixados de lado.

Aos que não se sentem e de fato não são compreendidos, porém compreendem muito bem o que é ser julgado.

Aos que são deixados às margens do esquecimento, mas não totalmente esquecidos para que os outros tenham onde jogar o lixo que vomitam pela boca.

A todos os que têm uma ferida interna e lutam para um dia curá-la ou ao menos aprender a conviver com ela, uma ferida que é considerada pelos outros como inexistente, pois não pode ser vista:

Eu lhes ofereço o meu abraço!

Thalita Cardoso
Enviado por Thalita Cardoso em 19/12/2019
Código do texto: T6822431
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