NOITES TRAIÇOEIRAS

Naquela noite decadente e solitária,
A música destoava perfazendo uma sinfonia solitária e tétrica.
Eu continuava a zanzar pelas ruas desertas a procura de nada,
Chutando latinhas

E sorvendo o Bourbon falsificado.
Acendi um cigarro,

Atirei o isqueiro num gato medonho.
A escuridão da noite

Era um deleite para meus olhos.
A obesa e decadente lua tentava me clarear
Aumentando a rota de sua órbita.
Ignorei o satélite, e ameacei

Atear fogo em seu gelo.
A vida já havia me castigado

De muitas maneiras,
Engabelando meus sonhos,

Surrupiando ideais,
Enegrecendo o destino e

Substituindo o azul do mar
Por melancólicas noites traiçoeiras.
Novamente a tétrica música

Ferindo meus tímpanos.
Tudo definhava, aquele barulho

Desprovia a vida,
Subtraindo o som e enterrando o ritmo.
No ar pairava um surto melancólico

De som execrável.
Finalmente uma providencial

Rajada de vento frio Me paralisou,

Senti alegria no momento glacial.
A hipotermia fazia

Minha massa raquítica tremer.
Num acesso de espasmos,

Senti a depressão da consciência,
Meus batimentos cessaram

A respiração escasseou.
Eu estava me despedindo

De um mundo solitário.
Amei quando a vida se ausentou,
Senti-me extasiado ao descobrir

Minha mente inabitável,
O corpo desbotado,

Imóvel em estado glacial
E meu enlutado coração

Eternamente mudo, inaudível.
certamente um consolo

para uma estadia deprimente.

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Paulo Izael
Enviado por Paulo Izael em 04/12/2019
Reeditado em 18/02/2022
Código do texto: T6811013
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