Parada 41
Ontem estava sentado na parada de ônibus
acompanhado de um “fog” londrino
e passou um ônibus, que eu estava sentado à janela;
Com um rosto de olhar distante
com sulcos invejados na fronte
olhar vazio, olhando nada
como que se no vazio encontra-se aquele ser,
vindo de outro bairro ou outra cidade.
“Homem-ônibus” sem procedência
com bagagem alguma
dentro de uma jaqueta de couro, já surrada,
com seus pensamentos a lembrar paradas anteriores;
Leve sorriso no canto da boca
a lembrar acúmulos de passados,
onde ficaram aqueles passageiros
que outrora enchiam o ônibus?
Cada qual em sua parada predestinada
fez seu presente, solidificando seus futuros.
Homem-ônibus, que fez do seu viver?
Tardou sua decida, pelo conforto da poltrona?
Ou acha que não chegou sua parada ainda?
Por falta de bagagens materiais
trás nas mãos e na garganta
asperezas de uma vida.
Através do vidro ele olha as paisagens
passando como sua vida passou
no reflexo da vidraça enxerga um vulto
a lhe mirar com olhar profundo
não sabe se com piedade ou raiva
apenas o verbo solto dentro da cabeça
tenta traduzi-lo sem sussurros,
à palavra solta na língua
com coragem me deixa à espera
na pedra fria onde sentado
aguardo meu ônibus chegar.