POEMA EM DÓ MAIOR
É um cantar de uma alva alveza,
Que jamais contenta-se em ser bom,
Deseja ser malvado em beleza
E de lá de uma Belém trazer o Tom...
Quando trouxer o tom, chamar João -
O Gibraltar vocal que estreita anseios...
Inspira-me, Vinicius, tu tens a mão,
Deixa de usá-la a só tocar em seios!
Toda minha voz de ternura agora cala,
Tem pesteado meu viver a solidão :
Não bastam Vinicius e tons e João,
Escola sem porta-estandarte e mestre-sala...
Dedico a todos bossanovistas e bossanovatos,
A todos passistas e ao que passa ato após ato
Em cena, em som, em sóis, lençóis, em céus,
Em zonas,em vãos, desvãos,em voz, em véus.
"Now" é talvez marca d'água e sempre legitima
Dilúvios, torvelinhos,turbas, lenços,linhos, rimas...
Ter um dó, estar em dó nas retrospectivas fascinantes-
Outra busca ao sol e em plena Lua da madrugada !
O peito em brasa chora os dias das brisas dissonantes,
Que calam,que calam mesmo, perfurando a fio de espada.
Mas nasci no entre-serras sempre ensolarado de menos,
Tenho a alma clara escurecida por adeus em acenos.
Puderá ser sabiá-laranjeira em gorjeios de alegria!
Pudera ter cantante desabrochar de flor na voz !
Tomara que me entendam mesmo a melodia,
Oxalá de boas novas fosse sempre o porta-voz,
Mas a minha tinta tempo tenta riscar no papel
Todo o desabamento de, minha nossa, Torre de babel...