POEMA EM DÓ MAIOR

É um cantar de uma alva alveza,

Que jamais contenta-se em ser bom,

Deseja ser malvado em beleza

E de lá de uma Belém trazer o Tom...

Quando trouxer o tom, chamar João -

O Gibraltar vocal que estreita anseios...

Inspira-me, Vinicius, tu tens a mão,

Deixa de usá-la a só tocar em seios!

Toda minha voz de ternura agora cala,

Tem pesteado meu viver a solidão :

Não bastam Vinicius e tons e João,

Escola sem porta-estandarte e mestre-sala...

Dedico a todos bossanovistas e bossanovatos,

A todos passistas e ao que passa ato após ato

Em cena, em som, em sóis, lençóis, em céus,

Em zonas,em vãos, desvãos,em voz, em véus.

"Now" é talvez marca d'água e sempre legitima

Dilúvios, torvelinhos,turbas, lenços,linhos, rimas...

Ter um dó, estar em dó nas retrospectivas fascinantes-

Outra busca ao sol e em plena Lua da madrugada !

O peito em brasa chora os dias das brisas dissonantes,

Que calam,que calam mesmo, perfurando a fio de espada.

Mas nasci no entre-serras sempre ensolarado de menos,

Tenho a alma clara escurecida por adeus em acenos.

Puderá ser sabiá-laranjeira em gorjeios de alegria!

Pudera ter cantante desabrochar de flor na voz !

Tomara que me entendam mesmo a melodia,

Oxalá de boas novas fosse sempre o porta-voz,

Mas a minha tinta tempo tenta riscar no papel

Todo o desabamento de, minha nossa, Torre de babel...

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 20/11/2019
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