Escrever

Eu escrevo por ímpeto, por impulso

Como quem se entrega ao submundo

E com a loucura em meu útero

Eu semeio e fecundo

Eu escrevo por empáfia, por insulto

Como quem ama o imundo

E com a sujeira e húmus

Eu tinjo as palavras, impuro

Eu escrevo por amor, por Saturno

Como quem desafia o tempo e o turno

E com a alma eternizada de nada

Abro a urna sem fundo

Eu escrevo por escrever, sem rumo

Como quem perde o prumo

E com as mãos vazias e trêmulas

Sorve o último sumo

Eu escrevo por tesão, derrubo muros

Como quem erige em acúmulo

E com os dedos cava a alma

Até enterrar-se em seu túmulo

Eu escrevo porque quero, com um murro

Na boca de quem é idiota, burro

E com o sangue derramado

Deixo de me sentir tão puto

E por isso acabo aqui, não me curvo

O show não pode continuar no escuro

Encaro a vida, o grande absurdo

Para não ceder ao luto, eu luto

José Rodolfo Klimek Depetris Machado
Enviado por José Rodolfo Klimek Depetris Machado em 05/08/2019
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