João Bento

Descalço por vias esburacadas

Pita um cigarro por entre as passadas

Os olhos doem de vistas cansadas

Sente falta da vida, mas não das namoradas.

“João Bento,

Para um momento, me ensina

Não sou ser tão altivo

A pestilenta dor ainda me amofina

Peço com mil preces, nas sombras das esquinas:

‘Deixa-me em paz, nefasta mula que me azucrina’. ”

Malograda responde:

“Alma de poeta

Por demais

Me apetece

Teus versos me alimentam

Tuas preces me divertem. ”

Bento se vira

Mas o vento

O cigarro lhe apaga

Aguas caem das vistas

O sofrimento se instaura.

A boca se fente por rachaduras

Marcas de que pouco movimentava

Rouquidão se espalha no vento

Por entre essas palavras:

“Fez-me parar na via

O movimento me protegia

Dessa tua dama desventurada.

Agora somos dois maculados

Aprecia!

Essa agora é nossa vida

E nenhuma tragada

Vai muda-la. ”

André M Carneiro
Enviado por André M Carneiro em 30/06/2019
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