João Bento
Descalço por vias esburacadas
Pita um cigarro por entre as passadas
Os olhos doem de vistas cansadas
Sente falta da vida, mas não das namoradas.
“João Bento,
Para um momento, me ensina
Não sou ser tão altivo
A pestilenta dor ainda me amofina
Peço com mil preces, nas sombras das esquinas:
‘Deixa-me em paz, nefasta mula que me azucrina’. ”
Malograda responde:
“Alma de poeta
Por demais
Me apetece
Teus versos me alimentam
Tuas preces me divertem. ”
Bento se vira
Mas o vento
O cigarro lhe apaga
Aguas caem das vistas
O sofrimento se instaura.
A boca se fente por rachaduras
Marcas de que pouco movimentava
Rouquidão se espalha no vento
Por entre essas palavras:
“Fez-me parar na via
O movimento me protegia
Dessa tua dama desventurada.
Agora somos dois maculados
Aprecia!
Essa agora é nossa vida
E nenhuma tragada
Vai muda-la. ”