Reflexões na ponta do balcão
Larga as mãos da mãe na soleira da porta
Sente romper o véu de sua morada
Estica as pernas, será longa a caminhada
Não está mais embaixo das asas, sinta as brisas geladas.
Está é a tua vida
Perdes tempo em bebidas
Perdes tempo nas calçadas
Perdes tempos entre linhas
Dos livros de filosofia empurrada
Nas estrelas nomes grandes
Para homem pequenos
De vestes manchadas
De tons vermelhos inocentes
Caminhos subscritos
De uma estrada tão larga
Transeuntes sozinhos
Espaço para nada.
Nos reflexos da íris
Tantas crianças maltratadas
Continuam mancas e marcadas
Trilhando vias pelas viseiras do trauma.
“Desculpa mãe, essa já minha saideira”
Não me culpo, nas paredes desse bar
Vejo os retratos, e a nossa lareira
Esse é o meu novo lugar, quero ficar.
A cada gole relembra os dons do colo materno
Forças maiores, de brutas mãos, tira-lhe a realidade
As questões infundem a mente, o peito se enche de saudade
No copo vazio ecoam os pedidos eternos:
“Deus, por que criaste malogros às criaturas? ”
Silêncio
“Mãe, por que me jogas no mundo, tão frágil e inseguro? ”
Silêncio
“Amor, por que me largaste quando tínhamos um futuro? ”
Silêncio
Nesse mundo, falta-se tempo para escutar os silêncios
Será barulhento demais? Ou custoso de menos?
À beira desse liquido que relembra os mais bonitos sóis
Os anseios tornam-se pequenos, diminutos, efêmeros.
Volto cambaleante às redondezas de meu querido casebre
Um pouco mais aquém às dores do mundo dos célebres.
Construo a vida dos infames e pérfidos viajantes
Usuários dos alucinógenos e ludibriantes
Afugentadores das dores e angustias dos dias adiante.