Reflexões na ponta do balcão

Larga as mãos da mãe na soleira da porta

Sente romper o véu de sua morada

Estica as pernas, será longa a caminhada

Não está mais embaixo das asas, sinta as brisas geladas.

Está é a tua vida

Perdes tempo em bebidas

Perdes tempo nas calçadas

Perdes tempos entre linhas

Dos livros de filosofia empurrada

Nas estrelas nomes grandes

Para homem pequenos

De vestes manchadas

De tons vermelhos inocentes

Caminhos subscritos

De uma estrada tão larga

Transeuntes sozinhos

Espaço para nada.

Nos reflexos da íris

Tantas crianças maltratadas

Continuam mancas e marcadas

Trilhando vias pelas viseiras do trauma.

“Desculpa mãe, essa já minha saideira”

Não me culpo, nas paredes desse bar

Vejo os retratos, e a nossa lareira

Esse é o meu novo lugar, quero ficar.

A cada gole relembra os dons do colo materno

Forças maiores, de brutas mãos, tira-lhe a realidade

As questões infundem a mente, o peito se enche de saudade

No copo vazio ecoam os pedidos eternos:

“Deus, por que criaste malogros às criaturas? ”

Silêncio

“Mãe, por que me jogas no mundo, tão frágil e inseguro? ”

Silêncio

“Amor, por que me largaste quando tínhamos um futuro? ”

Silêncio

Nesse mundo, falta-se tempo para escutar os silêncios

Será barulhento demais? Ou custoso de menos?

À beira desse liquido que relembra os mais bonitos sóis

Os anseios tornam-se pequenos, diminutos, efêmeros.

Volto cambaleante às redondezas de meu querido casebre

Um pouco mais aquém às dores do mundo dos célebres.

Construo a vida dos infames e pérfidos viajantes

Usuários dos alucinógenos e ludibriantes

Afugentadores das dores e angustias dos dias adiante.

André M Carneiro
Enviado por André M Carneiro em 03/06/2019
Código do texto: T6663657
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