LÍTIO & BICHO DE SETE CABEÇAS

O bicho de sete cabeças abateu-se sobre mim,

Asas imponderáveis, incomensuráveis,

Deixaram-me travo na língua,

O silêncio de mim para mim.

Desde pequeno fui avisado, prevenido, de nada adiantou,

O bicho veio sem alarde e viria, cedo ou tarde.

Data de tempos imemoriais, nenhuma matemática

Ou teogonia pudera abrandá-lo.

Ele ri-se, feito todo predador voraz,

Também lhe apraz cada gesto de meu medo,

Não se dá com os que lhe apontam o dedo,

É o bicho de sete cabeças e nada mais.

Não tive a sorte de Ulisses ante a esfinge,

Meu bicho era mais sagaz, de outras tessituras,

Desse tecido que de tecido se finge ...

Diz palavras camufladas de diálogos quando verdugo.

Pouco a pouco serei devorado, o terror recomposto

Apresenta-me novas versões deste meu destino,

Que morrerão comigo, caladas como tantas

Mais coisas que fiz e não fiz...

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 20/05/2019
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