LÍTIO & BICHO DE SETE CABEÇAS
O bicho de sete cabeças abateu-se sobre mim,
Asas imponderáveis, incomensuráveis,
Deixaram-me travo na língua,
O silêncio de mim para mim.
Desde pequeno fui avisado, prevenido, de nada adiantou,
O bicho veio sem alarde e viria, cedo ou tarde.
Data de tempos imemoriais, nenhuma matemática
Ou teogonia pudera abrandá-lo.
Ele ri-se, feito todo predador voraz,
Também lhe apraz cada gesto de meu medo,
Não se dá com os que lhe apontam o dedo,
É o bicho de sete cabeças e nada mais.
Não tive a sorte de Ulisses ante a esfinge,
Meu bicho era mais sagaz, de outras tessituras,
Desse tecido que de tecido se finge ...
Diz palavras camufladas de diálogos quando verdugo.
Pouco a pouco serei devorado, o terror recomposto
Apresenta-me novas versões deste meu destino,
Que morrerão comigo, caladas como tantas
Mais coisas que fiz e não fiz...