Sobre Deus e o vizinho.

Era oito e quarenta e oito

Clareou meio afoito

Aquele dia

Era mais uma chance

Outra tentativa

Daquela, que sempre se esquiva

E de novo se tenta entender a vida

O vizinho estava vivo ainda

E martelava

Quase oito e cinquenta e quatro

e, naquela fase

O teatro da vida abria as cortinas

Martelava

Hoje, essa era a hora do inicio

Pois sempre tem hora pra iniciar

e recomeçar

Mas ninguém

Nunca sabe quando termina

Mas tem horas que a gente percebe

O indício de ser

um pouco daquilo

Que sempre termina

Pra depois germinar de novo

Na loucura de falar com luz

E de ouvir a voz do silêncio

Hoje ela quis me falar

De alegria e de tristeza

de terra e de água, de areia e de magma

E essa voz me falava

e martelava

e fazia perguntas

e respostas juntas me dava

Me dizia daquilo que nos define

Pois a lágrima mais triste

Ela é seca, desbotada

E ninguém nunca viu

Porque desistiu

de ser chorada...e não caiu

E também que a melhor risada

Aquela que todos querem

Também não foi dada

Ela vem, quando não se quer nada

Mas que a gente a insiste em querer

e martelava

da mesma maneira que um dia

desistiu de querer chorar

E passou a querer

Entender a vida

A empatia

Num gesto de gentileza

A verdade, o egoísmo

a mentira, o cinismo, a efemeridade

e martelava e martelava

Sobre uma suposta felicidade

Escondida lá nas estrelas

e falava de flores

e cores e asas de borboletas

e morte e de norte e de oeste

e pinturas rupestres

e de cores escuras

e de águas puras

e cores primárias

e capítulos

e espadas e plexos e marteladas

e complexos e escápulas

estátuas, sobre os peixes que nadam

e de novo a felicidade

Que não pode ser explicada

Talvez ela seja um elo

Com o Deus que a tudo criou

e que sempre o recria de novo

e outro e outro dia

Pode ser que seja aquele

e seja belo

Veja o vizinho lá fora

Que nesta mesma hora

Desatento e alheio ao agora

Faz bem mais que meia hora

Que ele empunha o martelo

...e martelava!

Edson Ricardo Paiva.