stalingrado
o corpo congelado do soldado
jaz sentado em meio ao campo branco
em seus braços, estendido
jaz o corpo do amigo mutilado
a vida em ambos se esvaiu
tragada aos poucos pelo frio
a única muda testemunha
dos instantes derradeiros, de remissão
a turva e branca imensidão
a perguntar-se o porquê
de ali jazerem gelados dois jovens
desatentos, pois nem mesmo os lobos
peritas feras das estepes
vagueiam nas planícies geladas
não nestes tempos de inverno
refugiam-se no calor dos covis
resignados, prudentes, espreitando
um sinal de permissão
do retorno à vida
ou teriam tido os dois soldados
tão estúpida, desconexa razão
de perambularem moribundos e suicidas
pelos campos que não poupam
nem ambições desmedidas
nem obediência tão cega
Publicado no livro "poesia de segunda" (2011).