Cocó de Vidro

Às vezes cago fezes desnutridas

E fico com o rabo a doer

Ocorre-me apenas qualquer asfalto

Para esfregar meu traseiro e a sujeira anal ali remover

Porque ninguém vê, disso estou certo

Faço-o denodado, sem papel higiénico que me acuda

Pego a minha mão e passo-a no risco que divide as minhas nádegas

Olho-me no espelho da camuflagem

Vejo apenas um mendigo fazendo necessidades gigantes

Que se livra do peso causado pelo lixo que consumiu na hora da fome

Obro rompante nos escombros da cidade sem nome

Cujas condições sanitárias não se diferem da minha falta de higiene

Lavo as mãos com as águas paradas que andam por aí

Ou então espero a chuva

Nunca ninguém foi tão corajoso assim

Ao ponto de fingir que é louco

Por ter já todos os músculos presos

Por conta do cocó que desce cu abaixo sem preliminares

Concentrou as veias, fez-me fugir para detrás dos carros abandonados

Por onde pessoas passam indiferentes como o Governo

Parto as tripas na certeza de que ninguém sentirá também o cheiro.

Widralino
Enviado por Widralino em 20/02/2019
Reeditado em 21/02/2019
Código do texto: T6579924
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