Cocó de Vidro
Às vezes cago fezes desnutridas
E fico com o rabo a doer
Ocorre-me apenas qualquer asfalto
Para esfregar meu traseiro e a sujeira anal ali remover
Porque ninguém vê, disso estou certo
Faço-o denodado, sem papel higiénico que me acuda
Pego a minha mão e passo-a no risco que divide as minhas nádegas
Olho-me no espelho da camuflagem
Vejo apenas um mendigo fazendo necessidades gigantes
Que se livra do peso causado pelo lixo que consumiu na hora da fome
Obro rompante nos escombros da cidade sem nome
Cujas condições sanitárias não se diferem da minha falta de higiene
Lavo as mãos com as águas paradas que andam por aí
Ou então espero a chuva
Nunca ninguém foi tão corajoso assim
Ao ponto de fingir que é louco
Por ter já todos os músculos presos
Por conta do cocó que desce cu abaixo sem preliminares
Concentrou as veias, fez-me fugir para detrás dos carros abandonados
Por onde pessoas passam indiferentes como o Governo
Parto as tripas na certeza de que ninguém sentirá também o cheiro.