A MORTE É UMA SÉTIMA ARTE
A MORTE É UMA SÉTIMA ARTE
Marília L. paixão
Hoje não quero ler poesia
Não quero arte, não quero fogo
Não quero o belo ou a bela
Não quero vela depois de morto
Hoje está triste a vida
O vento
A sorte
A noite
Hoje eu não quero dormir cedo
Amanhã não quero acordar tarde
E depois da manhã também não quero morrer
Hoje eu só quero incomodar você
Minhas palavras foram secas pela umidade
A cidade está cheia de sons, mas os meus ouvidos estão desligados
E você que muito pensa em mim, hoje pensará dobrado
Só por ter ido ali e não voltado
Não voltei por estar enjaulado
O meu leão de fogo me devorou
Virei um assado
Não me toque
Estou queimado
Não me corte carbonizado
Não me arranhe
Não me chame
Nada ouço
Nada falo
Nada grito
Estou segurando um espirro
Estou a meio espaço da razão em que enlouqueço
Sem falar na emoção que insiste e chora do outro lado do alto muro onde não estou
Hoje não vou
Hoje não venho
Hoje não tenho tempo para mim
Hoje não tenho tempo para ti
Hoje eu não existo
Já morri
A morte é uma sétima arte em combate
Vive lutando em mim
As letras que resistem
Atrapalham o meu fim.