Inferno Ideal
Outra madrugada em claro,
É fato,
Mas por que se sentir culpado?
O que me deixa tão perturbado?
Por que estou com esse fardo?
Coloco a mão no peito,
E bem feito,
Eu não aceito,
Parece até meu leito,
Meu último suspiro até a morte,
Isso seria a pior sorte,
Estou mantendo meu porte,
Tentando olhar os resultados ao norte,
Haja Santa paciência,
Mesmo num mar de pestilência,
Entre na água, sinta a ardência,
E explique seu coração aflito para a ciência,
Deitei e abracei,
Virei e virei,
Contorci e suei,
Mas eu não sei,
Por que estou tão aceso,
Nesse valor preso,
Cheiro de sangue fresco,
É um sonho Dantesco,
O inferno ideal,
Não tem distância abissal,
Não tem morte descomunal,
Nem o diabo astral,
O inferno não tem mar de enxofre,
Não parece um cofre,
Mas você sofre,
O inferno é o acordar,
É alguma coisa sempre lembrar,
Por que ele vai cobrar,
Vai sempre te amar,
Onde Deus toca e nada faz,
A tortura é o mais sagaz,
Ele te enche de esperança e faz,
Com que desgraça atrás de desgraça,
Você se refaça,
Mesmo que omita ou disfarça,
É tudo uma verdadeira farsa,
Por que ele te despedaça,
Pega um começo feliz,
E transforma numa memória infeliz,
Repetindo como todo amanhecer,
É fazer por merecer,
Seu maior pecado não é morrer,
Mas nunca tentar viver,
É um caçador de corações,
O falso das menções,
O punidor de missões,
Finalizador de canções,
Mas ele não é ruim ou mal,
Sem aparência bestial,
Somente um filho zangado,
Incompreendidamente irado,
Aprendendo com o erro do próximo,
Que da próxima vez,
Mesmo não achando ótimo,
Não terá mais sutilez,
O inferno ideal,
Tão limpo e ancestral,
Sem sofrimento carnal,
Nem orgia de carnaval,
É uma alma encaixotada,
Para sempre confinada,
Num pesadelo está fadada,
De uma lembrança conturbada,
Que deixa a alma desgraçada,
Desgraça da própria graça,
Mas você não estaria ali de graça,
Se não quiser ir prali,
(Não) faça.