Ismael
Os pés sob um chão já pisado,
marcado pelo tempo
A tanto tempo, lá viviam eles
Os loucos.
Quartos vazios, números
Mar de folhas revestindo o chão, musgos
Remédios esparramados, crise
Telhado quebrado, luz do sol
Corredores vazios que contam histórias de um passado
atormentado,
seria prisão ou hospital
faziam ali o bem ou o mal
Quem eram realmente
Os loucos.
Lá se vai, perdido no tempo
Os olhares carentes, lágrimas
Cancões suprimidas, gritos
Luz acesa a meia noite,
ninguém sabe quem é.
Correm por entre os labirintos
Emocões variadas, surtos
Cabeça cansada, demasiada consciencia
que um pequeno corpo por vezes não aguenta
Os loucos.
Nomes esquecidos, Terezinha, José de Oliveira
Marta Cardoso, e tantos outros
Ainda perdidos no labirinto do tempo, da memória, do lugar
Me confundo em versos rasos
o que será de fato?
Os loucos.
A vista as montanhas,
torno-me a entoar em sopros o desespero e o respeito
Aos fantasmas, as histórias de cada pé que aqui pisou
cada olho que aqui chorou, cada peito que aqui sentiu
saudade e dor
Quem sabe não eram felizes
Dançavam em grandes salões
pisando um no pé do outro
das danças mais loucas
podiam enfim ser quem eram
Os loucos.
Poesias abandonadas em quartos ecoantes
Escadarias, portas abertas
Cachorros tomando conta do que não é seu
E as folhas secas, continuam caindo
Donde hoje, mergulho, sucinta.
Com ela. Em nossas ruínas.
E Os loucos.
(escrito dentro de um sanatório abandonado de nome Ismael, Amparo/Sp, 01.07)