Trem cigano
Mãos ciganas,
que percorrem as curvas de um corpo
De todo lado tolo,
sou lata, sou fuligem, sou semente e folha seca
Paira no ar a nuvem que me assombra
Me faz chover, cada dia mais
Padece todo enlace, toda trama
meu único drama
é saber amar demais.
Chovo e faço chover
choro e faço chorar
vento e faço ventar
Num grito abafado pelo tempo
Paro e pairo no espaço
me ambientalizo em meus laços
Inventando uma realidade
Minto, finjo ser verdade,
tudo que de mim ousa sair
em versos ou do avesso
o inverso que me desconstrói
Subo no vagão de um trem fantasma
que vai, rumo a qualquer lugar, lugar nenhum
Minto, finjo ser poeta
me visto de poesia
Canto canções antigas e já inventadas
Minha mentira é real,
É palpável, tem gosto de terra, cheiro de suor
cor de sangue, que escorre sob minhas pernas.
Jorra.
Meus dedos ciganos,
percorrem desertos.
Navegam enfim em ilhas desconhecidas,
sou rei, sou pirata, sou malandro, cigano, torto e vagabundo
vago pelo mundo,
no vagão da meia noite
num trem velho, barulhento, sem rumo,
nem destino,