Trem cigano

Mãos ciganas,

que percorrem as curvas de um corpo

De todo lado tolo,

sou lata, sou fuligem, sou semente e folha seca

Paira no ar a nuvem que me assombra

Me faz chover, cada dia mais

Padece todo enlace, toda trama

meu único drama

é saber amar demais.

Chovo e faço chover

choro e faço chorar

vento e faço ventar

Num grito abafado pelo tempo

Paro e pairo no espaço

me ambientalizo em meus laços

Inventando uma realidade

Minto, finjo ser verdade,

tudo que de mim ousa sair

em versos ou do avesso

o inverso que me desconstrói

Subo no vagão de um trem fantasma

que vai, rumo a qualquer lugar, lugar nenhum

Minto, finjo ser poeta

me visto de poesia

Canto canções antigas e já inventadas

Minha mentira é real,

É palpável, tem gosto de terra, cheiro de suor

cor de sangue, que escorre sob minhas pernas.

Jorra.

Meus dedos ciganos,

percorrem desertos.

Navegam enfim em ilhas desconhecidas,

sou rei, sou pirata, sou malandro, cigano, torto e vagabundo

vago pelo mundo,

no vagão da meia noite

num trem velho, barulhento, sem rumo,

nem destino,

Lírio Gita
Enviado por Lírio Gita em 27/06/2018
Reeditado em 30/09/2020
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