Coartem
Não conseguia mais dormir
Nem ficar acordado
Tremia de tanto andar
Gemia por ficar deitado
Seguro estive de novo
De que sou salvo pela poesia
Mesmo quando a terra se abre
Ou o céu parece fechar-se
A poesia de ver o rosto guia
Dos sonhos mais molhados
De um abraço companheiro
De um beijo bem dado
A poesia de um amigo
Cuspida por meio de anedotas
Conversas que ganham vida
No ressurgir das horas mortas
O aconchego de um chá
Não me fez querer ler
Os calafrios me tomaram
Como a algo para beber
As brigas de fora de hora
Das vizinhas sanzaleiras
Em defesa dos maridos pachecos
Com filhos a multiplicar
A casa ao lado festiva
Com músicas sem mensagem
A esventrar o sossego
A cabeça a amuar
Fizeram de mim recluso
Em liberdade enferma
Pois eu quis fugir
Só não sabia aonde ir
Seria a poesia a salvação
Em vez da Vitamina C
Após a consulta
Receitaram-me Coartem.