O BARÃO DE ALCOCHETE

“A réplica de Maquiavel”

Naquela distinta Academia

Reborbulham as celebridades

Em busca da fama e da magia

À custa das altas qualidades.

Ao ritmo da bola a saltitar,

Quer esteja chuva ou esteja sol,

O que urge é fazer acrescentar

O perene culto ao futebol.

Ali manda o mister e o mentor,

Ali manda o jeito e a mestria,

Ali manda o efebo e o actor,

Ali manda o sonho e a fantasia.

Longe do bulício da cidade

Mas à sombra do diabo-a-sete

Preside com toda a autoridade

O senhor Barão de Alcochete.

Cavalheiro assaz enfatuado,

Reinando por ali com´ em quartel,

Adora aplicar à régua e ao esquadro

Os regulamentos de Maquiavel.

Por “a” mais “b” abre-se a contenda

E, não se admitindo a concorrência,

Ai de quem as regras não aprenda

Vem logo de chofre, em advertência:

“Regra nº 1: olhos na baliza,

Regra nº 2: chutar & chutar,

Regra nº 3: molhar a camisa,

Regra nº 4: ganhar & ganhar!”

Mas a Regra de todas as regras

Será intentar, sem olhar a meios,

O comer a relva, quiçá as pedras,

Nem que seja por cruéis maneios.

Diz o Barão: “tu és mercadoria

És a minha aposta e investimento,

Se tu não cumprires vais de guia

E eu salvaguardo o rendimento.”

E mais disse o Barão: “ó maravilha,

Estamos na vila dos forcados,

Dou-te, à condição, a bandarilha

Pra que os toiros fiquem dominados.”

É assim naquela Academia,

Presidida, e bem, por um Jesus

Mas… com tal Barão por companhia

Apenas lhe resta o Padre Cruz.

E… por ironia da má-língua

Com zanga de comadres e de sogras

A douta Academia está à míngua

Ensombrada por estranhas “obras”.

Aquele vil Barão, “príncipe” frustrado,

Mandou à Academia suas milícias

Que, por azar, deram em resultado

Tristes e lamentáveis sevícias…

Este louco Barão devia saber,

Por conhecimento que lhe toca,

Que nada se pode resolver

Ajustando tudo à “lei da moca”…

Poderá assim a acontecer,

Como noutros casos a granel,

Se a afamada Taça se perder

O que seria eufórico virará fel.

Academia – escola de vaidades –

Se não houver lucro não há razão:

Quem semeia vento colhe tempestades

E em cada ovo nasce um escorpião!

Frassino Machado

In A MUSA DOS ESTÁDIOS

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 19/05/2018
Reeditado em 19/05/2018
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