MUTAÇÃO AMOROSA
Quando nos conhecemos tudo se moveu.
Os telhados, os postes e as janelas giraram.
O calçamento das ruas
traçou o nosso caminho.
As luminárias noturnas
orbitaram luas
sobre nossos abraços.
e o vento soprou em um pequeno palmeiral,
para soltar o doce de seus frutos.
Mas quando nos unimos,
o vírus da mosca tsé – tse ou a pólio bucal,
nova varíola, a da pústula do amor,
entrou em nossos corpos,
e nesse dia tudo cessou.
O barro desceu os telhados,
sumiu o mapa das calçadas.
E o vírus correu,
dentro dos edifícios, nos gatos.
Dos bueiros
ao mendigo deitado,
o micróbio ali chegou
e ainda estava dentro de nós,
seus primeiros receptáculos,
as suas flores.
O vírus espalha-se ainda hoje
e - suspeito - carregamos a mutação.
É um enigma de asas,
também é uma dúvida de quatro patas, meu amor.
E o meu coração que o acompanha,
rasteja pelos becos sem anticorpos,
deixa um rastro de humor viscoso,
e tenta fugir de ti.
DO LIVRO: "BORBOLETAS NOTURNAS NÃO EXISTEM"