EU, EU TAMBÉM SOU SÍRIO
“Ode à indiferença do Mundo”
Ó Vós, poderosos do mundo em delírio,
Que estais dormindo na vossa indiferença,
E permitis que haja tal martírio –
Reparai bem que eu, eu também sou sírio –
E exijo que acabeis com tal desavença!
Não há pior guerra que guerra entre iguais
E, pior que esta, é aquela que vem de fora
Provocada por interesses e vícios tais
Que esgotam os recursos essenciais
Daquele país que há muitos anos chora…
Não há pior guerra que guerra simulada
E, pior que esta, é aquela da cobardia
Fingindo paz mas sempre mascarada
De vãs promessas em cada madrugada
E em vez de protecção fazer razia…
Não há pior guerra que guerra traiçoeira
E, pior que esta, é aquela da fealdade
Dizendo-se humanitária e justiceira
Deixando toda uma nação inteira
Na trágica miséria e sem liberdade…
Ó Vós, poderosos do mundo alucinado,
Que vos julgais senhores de galardões
E vos sentis num trono engalanado
Continuais a ter o mundo enganado
Pois, em vez de pão, só lhe dais canhões…
Eu, poeta me confesso, e quero dizer
Que sois pequenos. Ó grandes da terra
Que se todo este drama estais a ver
E não vos entendeis para o deter
Então, vós sois comparsas nesta guerra!
Erguei os vossos braços e dizei: alto!
Que mais ninguém continue a guerrear,
Acabe-se de vez este sobressalto
Que o perigo do caos já está bem alto…
Alto! Que mais ninguém volte a matar!
(Mas eu, como poeta, estou ficando rouco
E temendo que o mundo esteja louco…)!
Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA