Borboletas Laranjas - O tempo em que matei meus filhos do passado
Construí sozinha uma coroa de borboletas laranjas.
Cada uma delas cuidadosamente escolhidas para se tornarem algo mais. Algo maior.
Com o complexo mãe, alimentei os pequenos pedaços do meu passado, nutrindo-os e cuidando-os até que a noite viesse e os matasse com crueldade.
E diante dos berros estridentes das memórias que queriam viver, me enxerguei na escuridão como parte da noite que destruía tudo que durante muitos anos lutei para proteger.
O riso saiu nervoso, mas também aliviado.
Empurrei o crime para dentro dos buracos que os ratos deixaram nas paredes e quase temi o castigo, mas ele nunca veio.
Disso eu já sabia.
Crime e castigo nem sempre andam lado a lado, embora eu saiba exatamente o que não devo fazer.
Libertei, então, as borboletas de minha cabeça. Deixei que voassem livres sem mim, mas elas permaneceram aqui.
E eu as engoli com grande fome, trancafiando-as em meu estômago faminto de emoções.
Guardei os acontecimentos deste dia com a fúria de um pai que protege a própria autoridade e o nomeei como "O tempo em que matei meus filhos do passado", pois já não podia lembrar daquelas horas escuras como apenas as horas de um dia específico, mas somente como as horas de um tempo indissolúvel. O tempo de uma vida inteira que deixei para trás.