Quimera
Como músculos aceitam-se bem sob a pele
Eu ensinei Drummond a versar
Enquanto Shakespeare nem sabia ao menos falar.
Criei o antídoto gratuito
Para curar o que chamam de dor
Logo depois de morrer
Enquanto eu o tentava beber.
Mato versões ultrapassadas
De mim mesmo.
Se mordo na língua, o veneno escorre,
Eu tenho hálito de melancia
E troco de pele tida terça-feira.
Bebo vinho importado com
Minha própria desgraça
E caminho lado a lado com
O orgulho que se sou ou estou.
Cobram-se por dores ouvidas
E medem os centímetros da ilusão.
Calculam em centavos os sonhos
Morrer custa, de fato, um milhão.
Eu adormeço com o crepúsculo nascente
E me vou sem hipótese de retorno,
Com unhas rasgo o não ser
E com dentes persigo o que sou
Bebo a loucura com canudinho
E injeto na veia o que sobrou.