Procurando meu coelho apressado
Procurando meu coelho apressado,
como todo ser humano decente,
adentrei no mais profundo buraco
para achar a profundeza da gente.
Mas lá, lustrando a careca de um sábio,
disse-me o ilustre aprendiz que era crente,
que, crente, estudava horas de saco
sem procurar um coelho latente.
Falou-me das mortes, sortes de azar,
gente carente de gente disposta
a largar tudo e lançar-se do lar
para investir na justíssima aposta.
Aposta! Sem meu coelho encontrar,
como, a menos que se faça por troça,
terei razões de no mundo apostar?
Não há modo, se o coelho me coça...
Chutei uma caspa, foi feito pedra.
Chutei outra caspa, foi feito bola.
Do parco cabelo, tufos de cerda
tocavam: “Tudo por causa da escola...”
Tom era estranho, de música incerta,
um carro rangendo, roda sem roda.
“Ei tu! Respeita em que pisa a careca!”
Era a cabeça de sábio mais torta.
Mas por que me maltratou minha flor?
Somente o coelho vinha a saber...
Quando o peguei... puf! “Sou de vapor!”
Um pesassonho ninguém vai não ter:
dormir sem saber o que foi do amor
e perguntar-se toda noite se:
persegue o deleite ou retorna à dor.
25/12/2017
*não é Papai Noel mais vermelho que o coração pulsante*