SONETO DO MEU VELÓRIO
Ninguém veio aqui pra permanecer:
Nosso existir é ralo, é transitório.
Então me indago como vai ser
As toscas circunstâncias do meu velório...
Quem confessará um coração apaixonado?
Quem vai chorar? Quem vai espernear?
Quem vai suspirar, num tédio danado,
Desejando estar em um outro lugar?
Mas antes da carcaça descer à última morada
Quero que minh’alma assista, impressionada,
Ao torpe espetáculo de meu último desterro.
Só pra descobrir quem sinceramente chora
Ou quem sorri de canto, fingindo que me adora:
Um morto patético assistindo o próprio enterro...
*Um poema antigo, reescrito.
**Soneto na estrutura, mas sem regras. O que me governa é a inspiração, não a métrica.