Entropias do ser

Há se soubessem como eu sou...

Far-me-iam festas

Teriam muito carinho por mim

Seriam “todo ouvidos” quando eu falasse

Prestar-me-iam incontinentes préstimos à menor menção

Me poupariam os mínimos dissabores ao coração

Há se soubessem quem eu sou...

Escarneceriam dos meus sonhos

Minimizariam os meus tormentos

Tripudiariam de minhas mais tênues ambições

Negar-me-iam os gestos, a fala, os restos!

Me trancariam mudo só a ouvir sermões

Há se imaginassem o que eu sinto...

Confundir-se-iam ao tentar entender-me

Ririam do meu choro, trêmulos de estupefação

Sentir-se-iam parte de minhas ambigüidades

Veriam em mim o que jamais pensaram ser

E se odiariam por ser ou não ser aquele múltiplo ser

E eu me safaria impune

Com meu sofrer imune

Com minha tosca emancipação

...E ficaria entregue ao meu destino louco

De ser um espelho fosco

Desses meus irmãos