VIGÍLIA (O que os meus olhos vêem)
Meus olhos, despertos,
São dois pontos acesos na penumbra.
Ora bruxuleiam, bailando,
Ora pairando, se incendeiam.
Querem dormir mas não se fecham.
Desejam que o cair das pálpebras,
Os encoraje à lúcida contemplação.
Querem uma aventura onírica,
Despida do deslumbramento emocional.
Há no mundo tanto amor, ignorado;
Há tanta ignorância no mundo, amada...
Somente em raros, semi-mortos episódios,
Notar em total abandono, as coisas posso.
Reconheço então o dilema insolúvel:
No despertar mecânico dos dias,
A fé incerta dos que dormem.
No cair idêntico das noites,
O sono vacilante da vigília.
Ganho sonhos, semeio lembranças...
Já não sei se acordo ou durmo.