NO MEIO DO JOGO

O futebol foi criado para ti, torcedor fanático.

A bola era quadrada antes da tua existência

e tua bandeira.

Os homens que participarão do jogo aguardam o

teu testemunho

e extirpariam as falanges dos pés

por teu grito de aprovação.

O futebol que se joga flui para ti, torcedor guia.

O ponta direita avança em busca do lançamento

e sabe, na derrota final,

a cal divisória

não será mais corrosivo do que teu ralho.

O ponta alcança a bola e tu gritas o seu nome.

Logo tu, o compilador,

o escriba dos estádios,

o inventor dos troféus, grita o nome do camisa

sete.

Mas a jogada não se completa e tu o perdoas.

E perdoarás o teu time nos mil erros seguintes,

pois tu queres o lance decisivo.

A bola tocada pelo goleiro

dança sobre o pasto verde

e sobra para o chute do volante

que estampilha o gol.

Tu comemoras o teu momento

e vibras pelo animal agora saído do peito.

Tu comemoras o território conquistado por ti,

mesmo ali,

na arquibancada lotada.

Tu comemoras a efêmera expansão de tuas tripas.

O futebol foi criado para a tua distorção, homem

moderno,

criatura sem meta e sem reto.

Do livro “BORBOLETAS NOTURNAS NÃO EXISTEM”

de Paulo Fontenelle de Araujo

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 12/11/2017
Reeditado em 11/04/2018
Código do texto: T6169417
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