NO MEIO DO JOGO
O futebol foi criado para ti, torcedor fanático.
A bola era quadrada antes da tua existência
e tua bandeira.
Os homens que participarão do jogo aguardam o
teu testemunho
e extirpariam as falanges dos pés
por teu grito de aprovação.
O futebol que se joga flui para ti, torcedor guia.
O ponta direita avança em busca do lançamento
e sabe, na derrota final,
a cal divisória
não será mais corrosivo do que teu ralho.
O ponta alcança a bola e tu gritas o seu nome.
Logo tu, o compilador,
o escriba dos estádios,
o inventor dos troféus, grita o nome do camisa
sete.
Mas a jogada não se completa e tu o perdoas.
E perdoarás o teu time nos mil erros seguintes,
pois tu queres o lance decisivo.
A bola tocada pelo goleiro
dança sobre o pasto verde
e sobra para o chute do volante
que estampilha o gol.
Tu comemoras o teu momento
e vibras pelo animal agora saído do peito.
Tu comemoras o território conquistado por ti,
mesmo ali,
na arquibancada lotada.
Tu comemoras a efêmera expansão de tuas tripas.
O futebol foi criado para a tua distorção, homem
moderno,
criatura sem meta e sem reto.
Do livro “BORBOLETAS NOTURNAS NÃO EXISTEM”
de Paulo Fontenelle de Araujo