Mil em um
Sou uma multidão enfurecida e ao mesmo tempo
sou um sopro na ferida
Sei ser o equilíbrio e me desequilibrar
num dia ser alguém importante
noutro apenas olhar e passar
Sou o brilho de uma faca cega
que tenta furar indiretamente a luz alheia
Sou a casca do chão de asfalto
suporto o peso sem trincar
Mas derrubo quem bambeia
Sou o saliva da fome , um lirismo meu
Aquarela não me pinta nem borra
da boca do verso poético falta eu
Que com 10 reais vai a forra
Dentro do quarto ou mundo a fora.
Sou o que ela queria
O que ele provocou
O que os outros falam
O que a vida levou
O que restou
Dou vida a morte
Riso ao choro
Abraço ao solitário
Afago o cachorro
Nem azar nem sorte
Trago relatos na memória
marcas no corpo e na alma
anoto num papel
E tudo ganha forma
Tudo vira história.