TÚNEL PRESÍDIO CARANDIRU
Rato, rato, rato, rato...
Lá vem o metrô de São Paulo
Alguns ratos correm
em um horário cumprido.
Rato, rato, rato, rato.
Lá vai outro trem,
fura o negrume do túnel,
contra estranhos roedores.
Rato, rato, rato, rato.
Lá vem, faróis acessos.
E fora dos subterrâneos,
quantos colchões deixados ao relento.
Rato, rato, rato, rato.
Lá vai o metrô paulistano.
Margeia as quebradas da cidade.
Um dia beirou o presídio do Carandiru
(implodiram em 2002).
Mas e os 111 mortos da chacina?
Perderam as almas
ou elas ainda correm
no cano da metralhadora,
contra o trem bala rumo a sua eternidade,
estação sem justiça.
Rato, rato, rato, ratos.
Lá vem outro comboio.
Há muitos anos
ele aciona a sirene e avisa:
“Eram tão imensos os olhos
dos homens que nos viam das janelas”.
Do livro: "A CIDADE POSSÍVEL"