TÚNEL PRESÍDIO CARANDIRU

Rato, rato, rato, rato...

Lá vem o metrô de São Paulo

Alguns ratos correm

em um horário cumprido.

Rato, rato, rato, rato.

Lá vai outro trem,

fura o negrume do túnel,

contra estranhos roedores.

Rato, rato, rato, rato.

Lá vem, faróis acessos.

E fora dos subterrâneos,

quantos colchões deixados ao relento.

Rato, rato, rato, rato.

Lá vai o metrô paulistano.

Margeia as quebradas da cidade.

Um dia beirou o presídio do Carandiru

(implodiram em 2002).

Mas e os 111 mortos da chacina?

Perderam as almas

ou elas ainda correm

no cano da metralhadora,

contra o trem bala rumo a sua eternidade,

estação sem justiça.

Rato, rato, rato, ratos.

Lá vem outro comboio.

Há muitos anos

ele aciona a sirene e avisa:

“Eram tão imensos os olhos

dos homens que nos viam das janelas”.

Do livro: "A CIDADE POSSÍVEL"

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 23/10/2017
Reeditado em 11/08/2020
Código do texto: T6151190
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