DESNUDO.
DESNUDO.
Conheço pessoas que não queria conhecer
Vivo épocas que nunca vivi
Leio livros que ninguém lê
Tenho irmão e irmã que não consigo esquecer
Reconheço as vozes que nunca ouvi
Vejo a morte aonde ninguém mais vê
Durmo em florestas que cansaram de existir
Eu vejo ladrões se tornarem políticos
A desonestidade procura abrigo
Beijo a boca que não para de sorrir
Convivo com os normais, tão paralíticos
E quanto mais longe eu fico, mais corro perigo.
Como a carne vacinada, o veneno está à mesa!
Quantos filhos dos conventos mortos
Quanta vergonha abortada da verdade
As vezes a paz tem um tedio salutar como defesa
Algum refresco que não perturbe a guerra e seus confortos
O homem se enforca na sua barbaridade
E hoje vive da máscara da sua nobre etiqueta
Despreza que estará refrigerado e roxo e forte
E nos falsos deuses-ídolos, os fracos dominam o planeta
Onde a agulha do Sul encontra seu Norte
E aonde estudei deuses que pecaram mais do que eu
E é aonde vejo gente morta,... Assim como eu.
Amo uma filha que é impossível descrever
Me lembro que amigos só são possíveis se conviver
E que o remorso da perda nunca a de se extinguir
Assim renasço do meu submundo!
Como da mãe que nascemos em outro mundo
Como do dia que um dia foi noite a colorir
Como do branco que se fez rei com o chicote
E como de um céu que nunca foi azul.
Sou um parágrafo sem fim!
Intermináveis exclamações com reticencias
E eu trago gente morta demais comigo
E é por isso que estou,... Constantemente nascendo.
CHICO DE ARRUDA.