O Som do Bardo

Me sinto tão longe

Eu me sinto estranho

Como se tudo parásse

Como se eu não m'encontrásse

Não sei o que me resta

Não sei o que me falta

É tudo tão confuso

Mas é tudo tão belo

As cores rodopiam

Em sonhos que me giram

E eu caio.

E sorrio.

Tudo é uma droga,

Tudo está nela.

Mas essa droga não se vende

Nas esquinas, na viela

Essa droga não se passa

Essa droga minha única

Droga auto-sintética

Agora uso como pena

Para afastar quem tem pena

Agora vejo o que me resta

Além de sonhos, beijos, cores

Agora tudo faz sentido

(Como se um dia fizesse)

Agora que me resta

Só a droga que me enche

Me preencho de alegria

Satisfação, prazer!

Não m'encontro mais em festas

Não me vejo em nenhuma lógica

Minha droga na cabeça

Minha droga psicológica.

Eu a crio, eu a mato

Me vicio, me desfaço

Basta que os olhos não me vejam

Que espelhos não me alcancem

Que o aço não me toque

E qu'ira alguma me corrompa

Meu lamento e epitáfio

Meu incerto documento

Sobre a droga que se faz

Sobre a tal droga que eu faço

Épico sonho e documento

Épico e longo se defaz

E se fecha com um baque

E o baque ecoa longe

E morre no final

Quando o ar engole o som

E quando as paredes me vêem

A rodar pelo quarto

E o fim está chegando

Minha droga acabando

E o chão é tão ébrio

Quanto o homem do espelho

Quanto o cara do espelho

Quanto o menino do espelho

Quanto estou eu mesmo

E de novo acontece:

-eu caio.