NUMA NOITE ESCURA

Agora sou...
A sombra que assombra,
O tempo presente,
A bomba que tomba,
Vítimas inocentes.

Agora sou...
A bala que cala,
A voz do inconformado,
A tala que entala,
O desesperançado.

Agora sou...
O breu que aconteceu,
Dizimando a luz,
O ateu que não creu,
No milagre da cruz.

Agora sou...
A guerra que encerra,
O canto da paz,
A terra que enterra,
A vida que jaz.

Agora sou...
O sorriso mais do que preciso,
Do candidato em comício,
O prejuízo sem juízo,
Dos ossos do ofício.

Agora sou...
O absurdo agudo,
Do que restou,
O tudo, contudo,
Que ainda não acabou.

Agora sou...
O olhar a vagar,
Numa noite escura,
A imaginar e desejar,
Um vôo com a loucura.