DE TEMPO EM TEMPO

Houve um tempo, que fui navegante,
Um Ulisses vibrante,
Deslizante sobre o oceano
Desafiando os mistérios, o vento insano.

Houve um tempo, que fui moinho,
Atravessando o caminho,
Do fidalgo engenhoso,
Deixando o seu objetivo fragoso.

Houve um tempo, que fui Walt Whitman,
Lançando versos na terra do tio Sam,
Questionando, causando revolução,
Em nome da poética liberdade, sedução.

Houve um tempo, que fui Sister Rosetta,
Encantando até as borboletas,
Com sua guitarra, sua voz macia,
O rock e o gospel em perfeita harmonia.

Houve um tempo, que fui Godard,
Perplexidade além do verbo estar,
Polemicamente, viver a vida,
Alma anárquica, louca, acendida.

Há um tempo, em que, perdido, divago...
Fui tantos, nada fui, naufrago,
No sem sentido, nas palavras incertas,
De um eu rascunho de poeta.

Há um estranho olhar, que o tempo cinzelou.
Há no embaçado ar, a pergunta, quem sou...?