CORRENTEZA
Cansada, muito cansada,
Da desgraçada sina,
Da angústia que se tem,
Fragmentou a realidade,
Saiu por aí indeterminada,
Aveludada nuvem,
Estranho momento,
Misteriosa poesia ao vento.
Saiu por aí mulher-camaleoa,
Entre o eco que ressoa
Na correnteza,
Respirando fumaça,
Achando graça,
Da tristeza,
Das luzes acesas,
Enfileiradas na avenida,
Mulher – anjo,
E daí?se anjo torto,
Se essa vida,
É uma quimera,
Um mar sem porto,
Um desarranjo,
Ausência de primavera,
No seu corpo roto.
Saiu por aí transmutada,
Alada com o não ser,
Do seu próprio ser,
Disposta a pagar as dívidas,
Que não deve,
A apagar profundas rasuras,
Do comportamento,
Disposta a se desfazer,
Das coisas lúcidas,
A se refazer na arquitetura,
Da doce loucura,
Deixar a alma leve,
Passageira clandestina,
No último vagão,
De um velho trem,
Sem pecado, sem razão,
Sem ninguém,
Insustentável peleja,
...E assim seja.