Esquizóide

eu ligo,

ninguém atende

o hospital lotado

de mortos não mortos

mas deus não tem ideia

de quantas vezes eu tentei

sair desse delírio esquizóide

que já me arrancou três quartos

de algo que julgo importante

sofrer agora já não adianta

ó não, ó não, ó não

pois eu quebrei minha perna

enquanto lia Dostoiévski

pelas ruas embaralhadas

desta cidade sem nome

sem ruas, sem carros

sem pessoas interessantes

nada mais parece pertencer

nada, nada, nada, nada

e estou perdendo o contato

com a triste realidade

ó sim, ó sim, ó sim

decolar,

para as luas de Saturno

escrever,

mais um poema soturno

pois o vento não se infiltra

na abafada ala psiquiátrica

e deus já não se lembra

qual remédio me receitou

mas faz parte do jogo

não interrompa.