EIS SOMENTE POR NASCER DE ABORTO

Trem passa, eu dentro passo

Corpo em ligeiro cansaço

Cérebro difuso...

Acho que ja fiz poema parecido

Pensamento livre à solta

Mas livre pensador esquecido

Tudo se repete e açoita

Repete feito reflexo e atavismo

Açoitado em plena lua cheia

Disperço na fumaça do fascismo

Como mato crescente permeia

Crescente na fé do abismo

Abismado na fé de ateu

Chicotes em não sincretismo

Fígado exposto, entreposto judeu

Sentado no entrave fratura exposta

No sofá aguardo enfarto no miocárdio

Sinto o perfume da vida de bosta

Não me atrai TV jornal PC rádio

Idiossincrasia blasfematória Idiota

Ah Dostoiévski, no túmulo ladra

Diz "poeta tosco, jaz sua cota"

Diz "em sentido/arte, tu não te enquadra"

À merda então caro bardo

Expressão não se vê, se engole

Suporta e remexa se os enfado

Só não lança aqui veneno que tolhe

Deixa-me calmo e quieto e natimorto

Vocifero demônio da própria morte

Eis somente por nascer de aborto

Eis somente por nascer por sorte

Onde me enquadro, bardo, se sou demente

Cadê a chance mal-dita de quando nasci

Cadê o inocente arrancado da consciência

Onde foi o chão e pés donde cresci?

Questionário apático de merda filantropia

Da boca que faz da voz só pensamento

Tornemos então em fé misantropia

Tornemos então fé em cimento

Cimento da massa e das manobras

Manobras das massas de modelar

TV Internet, mídia caos manopla

Ego babel Caras Channel morte acabar

Aqui é como fel, inferno onde agonizo

Ao lado do céu, inverno chão de granizo.

Arre! E vivo esse vinco consorte

Pois o único furor da vida, é desconhecer a morte