Desnorte
Se pudesse contar, o que sinto ao acordar
Indisposto, dia de mau gosto, não gosto
E quero contar, sim talvez desabafar
O que sinto, eu não minto e sabes que sim
Quando te vi, em o todo meu ser senti,
um desejo, a vontade de um beijo
E tudo o que vejo, me ilude, ou talvez não
A esperança, essa vã batida do coração
Os dias que passo no escuro do chão,
Nem sei o que faço nem digo que não,
Não quero, não posso, não devo sequer
Ao fundo de um poço saltar sem querer
E desejar bater no fundo, profundo, chegar ao fim do mundo
Pedir perdão, ou talvez não, essa vã batida do coração
No sumo da vida, seja escrita, seja lida,
Bebemos o meio, ficando apenas o fim
Talvez por receio, digamos que sim
A palavra é honesta, directa e sentida
E o dom da palavra, falado em canção
Esbate-se no tempo, essa vã batida do coração
Pago pelo que faço, falo e prometo
Por vezes injusto é o mundo comigo
Até porque sempre o tomei por amigo
Serei inocente até prova em contrário ?
Vivo neste meu mundo imaginário
Em que nada me aflige e pouco me atinge
Mas o mundo real, inflige-me o mal
E digo sim a todos os que me dizem não
Chamem-me louco eu sei, mas digo com paixão
Até que se esbata a vida, essa vã batida do coração.
Num passo o abismo, um trovão, um sismo
Tempestade que se escreve, molha o chão, parte o rochedo
Não consigo escapar, e fugir do medo, dum segredo
Espero então pela morte, mas sem sorte
Esqueceu-se da foice, não trouxe e fugiu
Deixando para trás, um rasto, um vazio
Terei enganado a morte ? Ou talvez não.
Cada vez mais ameaçada, essa vã batida do coração
O mito subsiste, resiste, desiste
As forças são muitas e contra, uma afronta
Mas na luta contra a maré, uma luz de esperança
E quem tanto persiste e insiste, alcança
Mas o cansaço eterno, a luta, um inferno
Tem o seu preço, fecha os olhos, escuridão
E é dessa forma triste, que desiste e não resiste
Que se apaga a chama, o orgulho e paixão
E bate pela última vez, essa vã batida do coração