SOMENTE UMA CANETA ?
Como ousas, traçante criatura,
em insólita aventura,
Dar-me tamanha desilusão,
Quando, para lá dos grilhões da tua servidão,
Desafiando a mão que te segura,
Trazer à luz palavras tão sentidas.
E da destra que te conduz, roubar a inspiração.
Perplexidade minha, ou mera imaginação ...
Vencido, colho da tua rebeldia a emoção mais pura,
Que, ferindo-me os sentidos,
Coloca-me, nesta escrivaninha, à beira da doce loucura.
E ao reconhecimento da tua desmedida bravura,
Homem somente que sou,
Dobro-me, incapaz de reprimi-la,
Relaxando a mão que te firma,
Observo, atônito, teu bailar feito letra,
tecendo outra, e mais outra trilha,
Utopia viva de um falso escriba e sua inspirada caneta.