BOLERO DOS LOUCOS

BOLERO DOS LOUCOS

Toca-se o bolero, Ravel,
Enquanto a orquestra afina o texto contido no caderninho à frente,
De vestes trocadas lado-a-lado, arrumam-se os paletós e os vestidos.
A dança é pingente dos rebelados.
E não há coquetel ou serviços de valet na entrada;
(a porta da loucura é gratuita).
Os loucos são sábios por si travestidos. 

Todos entram do jeito que querem, e podem.
Todos são bobos e alegres ao mesmo tempo, e riem.
Todos são todos (tolos) e assim interagem, miragens.
E dançam felizes (felizes ?) ao que se vê.

E as barbatanas dos injuriados são molhadas de água & sal.
Açúcares são doces que comem. 
E o entorno é só o sol. Luz.
Só o pó. Pois é só isso mesmo. Reluz. 
E o que se tem pro almoço ou jantar?
Nada !
Não há fome nesse momento.
Porque a alucinação toma conta de tudo.
A alucinação também é emoção.

A música é apenas o que se toca e não o que se houve;
(esta é mera interpretação do som original).
Então a loucura dita as regras de antemão.
Vulgar ou não (não importa).
Numa balada de loucos, (in)feliz à sua incidência,
A regra é inimiga do sério contexto passado à limpo.
Principalmente adversária do limbo dos cidadãos,
Passado o texto à limpo, somos como Pôncio Pilatos...
Olhamos pouco ao mundo dos loucos, lavando-se as mãos.
No fim, todos somos (creiam neste ditado);

Malgrado, vivemos fora de si mesmo,
E balaimos músicas desconhecidas, eruditos boleros, 
Mentiras em tons sérios, 
Loucos sinceros - duma máxima terrena missão. 
Somos alheios ao céu e ao inferno, 
Guerreamos consigo mesmo, 
Pois vivemos fora de si (já dito e repetido), 
Fora do nexo dos ditos - pretensos - homens sãos.