NÃO ERA RAZÃO

Eles pareciam ter tantos olhos e suas bocas diversas queriam devorar,

Estavam à beira do caminho buscando quem pudesse tragar,

Os passos eram dados em fios embaraçados, alguns ficaram presos para trás,

Uns passavam por cima do outro e não pausavam para ajudar,

A música de acordes menores, eu escutava enquanto via a cena,

Eles afundavam naquela lama, estava presos, perdiam o ar...

E à beira do caminho os olhos famintos se prendiam aos meus detalhes,

As bocas babavam querendo provar a carne que me cobria,

As linhas se moviam, prendiam e desprendiam, mas ninguém sabia quem padeceria,

Alguns desaparecendo, outros amarrados, uns próximos do fim...

Era caótico, escuro, cheio de arranhões, mas seguia sobre as linhas,

Era tudo o que poderia ser, só não era razão,

Era o que o poeta tentou desenhar sobre as escolhas do coração.

Leonardo Guimarães Rosa
Enviado por Leonardo Guimarães Rosa em 27/09/2016
Código do texto: T5774635
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