O DESAPARECIDO

O menino brinca no carrossel,

entra em uma volta mágica,

desaparece.

A mãe atônita vasculha o brinquedo,

questiona os cavalos de madeira,

enlouquece.

Muitas crianças se perdem nesta metrópole.

Seus rostos impressos

frequentam a lateral dos botequins:

pais pedem notícias e consolo.

Ontem sumiu outra menina.

Ela tinha um sinal de nascença em seu rosto,

Parecia a lua crescente,

era quase uma marca d’água,

via-se contra a luz.

Hoje todo o seu corpo é transparência.

O pai procura os culpados

e a mãe não suporta a culpa.

A dor da perda percorre seu ventre,

o espectro da filha pisa em sua flora intestinal.

( Acredita-se que as crianças ocultas

crescem no orgânico e não aparente,

Dizem também que já foram vistas em um

reino de minerais porosos).

Os desaparecidos não voltarão.

Ontem um menino retornou a casa paterna.

Julgou-se ser o filho perdido.

Era outro, semelhante, quase gêmeo

e tão igual que o verdadeiro fincou-se de vez,

no concreto intransponível,

inalterável,

a metade subterrânea de um poste.

DO LIVRO: "BORBOLETAS NOTURNAS NÃO EXISTEM"